Adelino
Frazão- Possibilidades do Desenvolvimento Histórico do Violão
O objetivo deste artigo é o de discutir as possibilidades
de desenvolvimento histórico do violão no Ocidente e sua difusão pelo mundo.
A busca pela
explicação do desenvolvimento do instrumento musical violão nos leva a uma investigação
minuciosa e crítica de uma literatura que se baseia em imagens que remontam que
remontam os tempos da antiga Babilônia. Arqueólogos descobriram placas de barro
com figuras seminuas tocando instrumentos
musicais com algumas características semelhantes ao violão atual. Há uma estima que estes
desenhos e/ou esculturas foram produzidos por volta de 1900-1800 a.C.
No entanto, um
exame mais detalhado e criterioso nos mostra que há diferenças significativas
no corpo e no braço deste
instrumento em relação ao violão. O fundo é chato, deixando clara a sua não relação com o alaúde, de fundo côncavo. As suas cordas são pulsadas (dedilhadas ou
rasgueadas) com a mão direita, e
o número de cordas não dá para
definir ao certo, sendo que em algumas placas pelo menos duas cordas são
visíveis.
Também temos
relatos sobre instrumentos semelhantes ao violão no Egito, Assíria, Susa e
Luristan.
Dos primeiros
instrumentos de cordas que encontramos na nossa pesquisa podemos destacar foi a
Lira, o saltério e a harpa, que
eram usados pelos antigos Egípcios e Gregos.
Pintura Egípcia que mostra
exemplos de instrumentos cordofônicos;
Apolo com a sua lira, na cultura grega.
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No
Egito, o único
instrumento de cordas pulsadas ou dedilhadas era a HARPA de formato côncavo,
que logo depois foi acrescentado a este instrumento, um braço com trastes
cuidadosamente marcados e cordas feitas de tripa animal. Pouco tempo depois
estas características se combinariam e evoluíram para um instrumento ainda mais
próximo do violão.
Em
Roma, um instrumento
totalmente de madeira surge (30 a.C-400 d.C). O tampo que antes era de couro
cru (semelhante ao banjo) agora é de madeira e possui cinco buracos. É
importante frisar que nas catacumbas egípcias foram encontrados instrumentos
com leves curvas características do violão.
Cítara
Adaptação moderna da Khitara
O primeiro instrumento de
cordas europeu, de origem medieval data de 300 anos depois de cristo, e possuía
um corpo arredondado que se interligava com um braço de grande comprimento.
Este tipo de instrumento foi utilizado por muitos anos e foi o antepassado
provavelmente da teorba.
Há também a descrição de outro
instrumento datado da Dinastia Carolingian que pode ser de origem tanto alemã
como francesa. Este instrumento possuía formato retangular e seu corpo era
equivalente ao seu braço.
Em ilustrações pode se
observar que na “mão” do instrumento ( de formato arredondado) se encontravam
de quatro e as vezes cinco tarraxas de afinação, com um número de cordas
equivalente. Este instrumento manteve seu formato e suas definições até o
século quatorze.
Paralelamente á este
instrumento, outro começou a se desenvolver. Possuía leves curvas nas laterais
do corpo tornando-o mais anatômico e confortável. Descrições deste instrumento
foram encontradas em catedrais inglesas, espanholas e francesas datadas do fim
do século quatorze. Surgia então a guitarra.
É importante frisar que haviam
distinções, como a guitarra Latina e a guitarra Morisca. A guitarra Morisca ,
como o nome indica, tinha origem Moura, devido a colonização da Espanha e da
África do Norte.
Este instrumento possuía um
corpo oval e o tampo possuía vários furos ornamentados chamados de Rosetas. Era
totalmente remanescente do Alaúde, e dentro deste conceito uma série de outros
modelos, com diferentes números de cordas também existiam.
Já a guitarra Latina, tinha as
curvas nas laterais do corpo que marcariam o desenho já quase definitivo do
instrumento. A guitarra latina (assim como a Morisca) gozavam de grande
popularidade e gosto na Europa Medieval.
Essa popularidade se devia
principalmente a presença dos “Trovadores”, músicos de natureza nômade que com
suas performances e constantes viagens enriqueceram a cultura européia e
impulsionaram a popularidade e reconhecimento do instrumento.
Até a Idade Média as
informações sobre a guitarra eram obtidas de maneira indireta na sua maioria,
através de afrescos, pinturas e pequenas anotações da época. A partir do
período Barroco, as informações sobre instrumentos em geral e sobre música são
muito mais claras e precisas.
Embora não seja bem definida,
pois existem segundo musicólogos várias teorias para o sua criação, hodiernamente
apresentam-se duas, citadas por Emílio Pujol na sua conferência de nome “La
guitarra y su História” que ocorreu em Paris no dia 9 de Novembro de 1928, onde
resolveu que:
A primeira hipótese é de que o
violão seria derivado da
chamada “Khetara grega”, que com o domínio do Império Romano, passou a se
chamar “Cítara Romana”, era também denominada de “Fidícula”.
Teria chegado á península
Ibérica por volta do século I d.C. com os romanos; este instrumento se
assemelhava á “Lira” e, posteriormente foram acontecendo as seguintes
transformações: os seus braços dispostos da forma da lira foram se unindo,
formando uma caixa de ressonância, a qual foi acrescentado um braço de três
cravelhas e três cordas, e a esse braço foram feitas divisões transversais
(trastes) para que se pudesse obter de uma mesma corda a ser tocado na posição
horizontal, com o que ficam estabelecidas as principais características do Violão.
A segunda hipótese é de que o
Violão seria derivado do antigo “Alaúde Árabe” que foi levado para a península
Ibérica através das invasões muçulmanas, sob o comando de Tariz.
Os mouros islamizados do
Maghreb penetraram na Espanha cerca de (711) e conseguiram vencer o rei visigodo
Rodrigo, na batalha de Guadalete. A conquista da península (711-718) formou um
emirado subordinado ao califado de Bagdá.
O Alaúde Árabe que penetrou na
península na época das invasões foi um instrumento que se adaptou perfeitamente
ás atividades culturais da época e, em pouco tempo, fazia parte das atividades
da côrte. Acreditava-se que desde o século VIII tanto o instrumento de origem
grega como o Alaúde Árabe viveram mutuamente na Espanha.
Isso podemos comprovar pelas
descrições feitas no século XIII, por Afonso, o sábio, rei de Castela e Leão
(1221-1284), que era um trovador e escreveu célebres cantigas através das
ilustrações descritas nas cantigas de Santa Maria, que se pode pela primeira
vez comprovar que no século XIII existiram dois instrumentos distintos
convivendo juntos.
O primeiro era chamado de
“Guitarra Moura” e era derivado do Alaúde Árabe. Este instrumento possuía três
pares de cordas e era tocado com um plectro (espécie de palheta); possuía um
som ruidoso. O outro era chamado de “Guitarra Latina”, derivado da Khetara
Grega e era dedilhada ou executada com os dedos.
Ele tinha o formato de oito
com incrustações laterais, o fundo era plano e possuía quatro pares de cordas.
Era tocado com os dedos e seu som era suave, sendo que o primeiro estava nas
mãos de um instrumentista árabe e o segundo, de um instrumentista romano.
Isso mostra claramente as
origens bem distintas dos instrumentos, uma árabe e a outra grega; que
coexistiram nessa época na Espanha. Observa-se, portanto, como a origem e a
evolução do Violão estiveram intimamente ligadas á Espanha e a sua história.
Em outros países de língua não
portuguesa o nome do Violão é guitarra, como pode se ver em inglês (Guitar),
francês (Guitare), alemão (Gitarre), italiano (Chitarra), espanhol (Guitarra).
Aqui no Brasil especificamente
quando se fala em guitarra quer se denominar o instrumento elétrico chamado
Guitarra Elétrica. Isso ocorre porque os portugueses possuem um instrumento que
se assemelha muito ao Violão e que seria atualmente equivalente à nossa “Viola
Caipira”.
A Viola portuguesa possui as
mesmas formas e características do Violão, sendo apenas pouco menor, portanto,
quando os portugueses se depararam com a guitarra (Espanhol), que era igual a
sua viola sendo apenas maior, colocaram o nome do instrumento no aumentativo,
ou seja, Viola para Violão.
Recapitulando, o desenvolvimento do violão remonta a uma
antiga origem comum a vários instrumentos cordofônicos então conhecidos na Ásia
Central e Índia[1].
Os musicólogos ou pesquisadores em música,
quando falam sobre a origem e desenvolvimento da guitarra (violão),
citam duas hipóteses prováveis sobre a origem
desse instrumento musical. Uma
delas é a de que o violão tenha
sido derivado do alaúde Caldeu-Assírio
que os Egípcios, os Persas e os Árabes levaram junto para
a Espanha; a outra hipótese é de que o violão sofreu diversas transformações e adaptações a partir de um instrumento grego denominado Kethara
Grega ou Assíria (que foi precursora da Cítara ou Fidícula
romana), da Rotta ou Crotta medieval inglesa e, finalmente, da Vihuela
que surgiu na Espanha no Século XVI.
No entanto, é
provável que quando os árabes chegaram à Espanha com seus Alaúdes,
teriam encontrado lá a vihuela.
Na análise das
Cantigas de Santa Maria, do rei Alfonso X, denominado de El Sábio (1221 –
1284), rei de Castela no período de 1221 a 1284, vemos que aparecem ilustrações
de dois tipos diferentes de guitarra,
uma oval, com incrustações e desenhos Árabes, mas sendo tocada, por um músico Mouro, o que seria a guitarra mourisca; já outra na forma do número oito, com
incrustações laterais, tocada por um músico de feições romanas, que seria a guitarra latina ou o precursor do violão.
No século XIV,
Guillaume de Machault cita em suas obras a guitarra mourisca e a guitarra
latina no século XVI na Espanha, a guitarra mourisca, com quatro pares de cordas, era usada para acompanhar cantos e danças populares,
enquanto que a guitarra latina –
a vihuela, pertencia ao músico
culto da corte.
A Vihuela
tinha três denominações distintas: vihuela de mano (em nada diferente do
violão atual), vihuela de
arco e vihuela de plectro.
A Vihuela
de mano constava de cinco pares de cordas mais a primeira que era simples,
totalizando 11 cordas. Os vihuelistas além de precursores dos guitarristas
do século XVII foram também criadores de métodos e formas musicais que serviriam de base para toda a música instrumental, para o instrumento,
que viria depois.
Vihuela
A Vihuela veio a
desaparecer devido à busca de “novos recursos” e maior “intensidade sonora”. O
povo, porém fiel à guitarra,
continua descobrindo novos caminhos para ela, utilizando-a inicialmente para os
rasgueados e acompanhamento do canto. Devido ao seu grande uso na Espanha,
a guitarra passa a ser conhecida
nos demais países como Guitarra Espanhola,
sendo que o seu período de triunfo ocorrerá no século XVII.
Alaúde e Vihuela
O alaúde
Os Músicos de Caravaggio.
O alaúde é um instrumento
de cordas que possui uma escala separada por trastes na parte frontal do braço
e um fundo abaulado. A palavra “alaúde” (ing. “lute”) é de descendência árabe
al’ud, “a madeira”.
CARAVAGGIO, A alaudista, c. 1600.
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Alaúde
O tampo (frente do
instrumento) é uma tábua fina e plana de madeira ressonante, normalmente tem
também um único “buraco” abaixo das cordas, chamado de “roseta”, contudo, podem
existir alaúdes raros que apresentam várias rosetas. A roseta do alaúde pode
apresentar desenhos entrelaçados ou amarrados esculpidos diretamente na madeira
do tampo.
Na parte de trás, o
alaúde é unido por tiras finas de madeira chamadas de “costelas”, no molde de
tiras de cascas de banana e unidas na extremidade para formar o fundo
arredondado do instrumento.
O braço (parte
posterior) é feito de madeira clara e a escala (parte anterior) é fabricada de
um tipo de madeira mais dura, o que permite maior durabilidade ao atrito dos
dedos e das cordas.
As “cravelhas”, que
servem para afinar o alaúde, eram dispostas num ângulo de 90º em relação ao
braço, antes da era barroca. As cravelhas de afinação são de madeira e fixam a
afinação por fricção, pelo fato de serem um pouco afiladas.
Os “trastes” eram
feitos de tripas de animais, geralmente de macaco que se dispunham ao longo do
braço. Eles desfiam e estragam com o uso e precisam de substituição freqüente.
Existem várias
configurações de alaúde no que diz respeito à quantidade de cordas.
Normalmente, elas são organizadas em pares, sendo que a mais aguda geralmente
aparece sozinha, chamada de “chantrelle”
(fran. “para o cantor”).
O alaúde é um
instrumento leve para o seu tamanho. O uso de cavilhas e correia de ombro são
recentes, pois nas ilustrações históricas podemos observar o instrumento sendo
executado com o apoio somente dos braços.
O alaúde é de
origem árabe e apareceu no Ocidente, mais precisamente na Espanha. Depois
disso, popularizou-se pela Europa no período da Idade Média, provavelmente veio
transportado por trovadores, menestréis, jograis ou viajantes.
Os
sarracenos trouxeram o alaúde para a Silícia antes de 1140, quando é
retratado em pinturas de teto na Cappella Palatia real em Palermo. No Séc. XV
era difundida na Itália e Alemanha.
Este alaúde
medieval tinha configuração de 4 ou 5 pares de cosdas e eram executados com
uma pena como plectro (palheta).
Haviam também
vários tamanhos na sua fabricação. No final do Renascimento, sete tamanhos
diferentes são documentados.
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A função principal
do alaúde na idade média era a de acompanhar o canto popular ou secular, e a
composição para este instrumento girava em torno da imitação da melodia
principal ou do contraponto.
Teorba
Alaúde
O Violão no Brasil
A VIOLA, instrumento de dez cordas ou 5 cordas
duplas, precursor do violão e popularíssima
em Portugal, foi introduzida no Brasil pelos jesuítas portugueses, que a
utilizavam na catequese. Já no século XVII, referências são feitas á viola em
São Paulo, uma delas colhida por Mário de Andrade: “Em 1688 surge uma certa
viola avaliada em dois mil réis, preço enorme para o tempo”.
E, diga-se de passagem, esta guitarra pertenceu a
um dos mais notáveis bandeirantes do século XVII: Sebastião Paes de Barros.”
Ainda na mesma obra, Mário de Andrade cita Cornélio
Pires, para quem a viola é um dos instrumentos que acompanha as danças
populares de São Paulo. A confusão entre a viola e violão começa em meados do século XIX, quando a viola é
usada com uma afinação própria do violão, isto é, lá, ré, sol, si, mi.
A confusão no uso do termo viola/violão, continua nessa época como atesta Manuel Antônio
de Almeida, autor da Memórias de um Sargento de Milícias (1854-55), quando se
refere muitas vezes com terminologia da época do final da colônia, á viola em
vez de violão ou guitarra
sempre que trata de designar o instrumento urbano com o qual se acompanhava as
modinhas.
A viola, hoje, tornou-se a viola-caipira,
instrumento típico do interior do país, e o violão, depois de ter sua forma atual estabelecida no
final do século XIX, tornou-se um instrumento essencialmente urbano no Brasil.
O violão também tornou-se
o instrumento favorito para o acompanhamento da voz, como no caso das modinhas,
e, na música instrumental, juntamente com a flauta e o cavaquinho, formou a
base do conjunto do choro.
Por ser usado basicamente na música popular e pelo
povo, o violão adquiriu má fama,
instrumento de boêmios, presente entre seresteiros, chorões, tornando-se
sinônimo de malandragem. Assim o violão foi considerado durante anos.
Os primeiros a cultivar o instrumento de uma
maneira séria foram considerados verdadeiros heróis.
O engenheiro Clementino Lisboa foi o primeiro a se
apresentar em público tocando violão, especialmente no
Clube Mozart, o centro musical da elite carioca fin-de-siècle. Ainda algumas
figuras proeminentes da sociedade carioca dedicaram-se ao instrumento na
tentativa de reerguê-lo, tal é o caso do desembargador Itabaiana, do escritor
Melo Morais e dos professores Ernani Figueiredo e Alfredo Imenes.
Um dos precursores do violão moderno no Brasil foi Joaquim Santos (1873-1935)
ou Quincas Laranjeiras, fundador da revista O Violão em 1928, e que nos últimos
anos de vida dedicou-se a ensinar o violão pelo método de Tárrega.
Uns anos antes, 1917, Augustin Barrios se apresenta
em uma série de recitais no Rio de Janeiro, tocando o instrumento de uma forma
nunca vista/ouvida antes. Segue-se a tournée de Josefina Robledo, que tendo
permanecido aqui por algum tempo, estabelece os fundamentos da escola de
Tárrega.
Dessa época destaca-se a agora reconhecida obra de
João Teixeira Guimarães (1883-1947) ou João Pernambuco, sobre quem Villa-Lobos
dizia, a respeito de suas obras: “Bach não teria vergonha de assiná-las como
suas.”
Atualmente a obra de João Pernambuco é bem
conhecida graças ao trabalho de Turíbio Santos e Henrique Pinto.
Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955), o Garoto, foi
um dos precursores da bossa-nova. Atualmente as excelentes obras de Garoto
ganharam vida nova, graças a Paulo Bellinati, que recuperou, editou e gravou
boa parte de sua obra.
Mencionamos o samba-exaltação Lamentos do Morro, os
choros Tristezas de um violão, Sinal dos
Tempos, Jorge do Fusa e Enigma, e a Debussyana, entre tantas outras. Ainda na
linha da música popular destacam-se Américo Jacomino (1916-1977), Nicanor
Teixeira, e mais recentemente a figura de Egberto Gismonti com suas obras
Central Guitare e Variations pour Guitare (1970), ambas de caráter experimental.
Também Paulo Bellinati realiza excelente trabalho
como compositor, obras como Jongo, Um Amor de Valsa e Valsa Brilhante já
ganharam notoriedade.
O violão no Brasil passou
a se desenvolver, principalmente, em dois grandes centros, Rio e São Paulo, de
onde vem a maioria dos grandes violonistas brasileiros, que tiveram ou têm sua
formação instrumental com os professores destas cidades.
Em São Paulo, o excepcional trabalho desenvolvido
pelo violonista uruguaio Isaías Savio (1900-1977), que teve sua formação
violonística com Miguel Llobet, resultou em uma das melhores escolas de
violonistas da América do Sul.
Depois de residir na Argentina, Savio radicou-se
definitivamente no Brasil, primeiro no Rio, depois em São Paulo. Nesta cidade,
onde desenvolveu a maior parte do seu trabalho, fundou a Associação Cultural
Violonística Brasileira, e em 1947 tornou-se professor de violão do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo,
como fundador da cadeira de violão, a primeira do
país.
Ainda em 1951, participou da fundação da Associação
Cultural de Violão de São Paulo. Além desta intensa atividade, Savio se
distinguiu pela composição de mais de 100 obras para o instrumento e cerca de
300 transcrições e revisões.
Hoje em dia suas compilações de estudos ainda são
usadas em muitas escolas por todo o país.
Entre os discípulos de Savio que mais se destacaram
está Antonio Carlos Barbosa-Lima (1944), que aos 13 anos estreou como
concertista e aos 14 gravou seu primeiro LP.
Barbosa-Lima é na atualidade um dos mais
conceituados violonistas, tanto em concertos, como na edição, transcrição e
comissão de novas obras para o instrumento. Basta dizer que a Sonata op. 47 de
Alberto Ginastera foi por ele comissionada e a ele dedicada.
Henrique Pinto, também aluno de Savio, é
reconhecidamente um dos mais importantes pedagogos do instrumento na
atualidade. Além de desenvolver uma grande atividade como editor e revisor de
obras para violão, Henrique é o
responsável por uma geração dos melhores violonistas brasileiros. Entre estes
estão: Angela Muner, Jácomo Bartoloni, Edelton Gloeden, Ewerton Gloeden e Paulo
Porto Alegre.
Ainda de São Paulo devemos citar a Manoel São
Marcos e sua filha Maria Lívia São Marcos, radicada na Europa, e Pedro Cameron,
também compositor de excelentes obras como Repentes, vencedora do 1º Concurso
Brasileiro de Composição de Música Erudita para piano ou violão – 1978.
No Rio, destaca-se a figura de Antonio Rebelo
(1902-1965), que também foi aluno de Savio quando da residência deste no Rio.
Rebelo desenvolveu atividades como docente, impulsionando o violão na cena musical.
Entre seus discípulos estão Jodacil Damasceno,
Turíbio Santos, Sérgio e Eduardo Abreu.
Jodacil Damasceno (1929), além dos estudos com
Rebelo, estudou com Oscar Cáceres.
Turíbio Santos (1943), também estudou com estes
dois mestres e com Julian Bream e Andrés Segóvia. Santos foi o primeiro
brasileiro a vencer, em 1965, o Concurso Internacional de Violão da O.R.T.F.,
em Paris.
Fez a primeira gravação integral dos doze Estudos
de Villa-Lobos e participou da estréia mundial do Sexteto Místico, também de
Villa-Lobos.
Turíbio é um dos maiores divulgadores da obra do
grande compositor brasileiro e hoje dirije o Museu Villa-Lobos no Rio.
Os irmãos Abreu, Sérgio (1948) e Eduardo (1949),
desenvolveram uma das mais brilhantes carreiras de concertistas internacionais.
Ambos estudaram com seu avô Antonio Rebelo e com Adolfina Raitzin de Távora.
Foram premiados, em 1967, no Concurso Internacional
de Violão da O.R.T.F.. Realizaram inúmeras gravações na Inglaterra, e se
destacaram como um dos melhores duos de violão de todos os tempos.
Atualmente, Sérgio dedica-se á construção de
violões. Ainda devemos mencionar outros violonistas cariocas como Léo Soares,
Nicolas Barros, Marcelo Kayath, também premiado em Paris, e o brilhante Duo
Assad, formado pelos irmãos Sérgio e Odair.
A música brasileira para violão tem se desenvolvido, praticamente, á sombra da
excepcional, embora pequena, obra de Villa-Lobos, que continua sendo a mais
conhecida nos meios violonísticos nacionais e internacionais. Alguns
compositores tentaram reprisar o sucesso dos 12 estudos.
Este é o caso de Francisco Mignone (1897-1986), que
com sua série de 12 Estudos (1970), dedicados e gravados por Barbosa-Lima, não
obteve o sucesso musical almejado.
Já o mineiro Carlos Alberto Pinto Fonseca (1943),
compôs Seven Brazilian Etudes (1972), também dedicados a Barbosa-Lima, nos
quais demonstra um nacionalismo e lirismo da mais pura escola nacionalista.
O compositor paulista Mozart Camargo Guarnieri
(1907-1993), uma das figuras mais proeminentes da música brasileira escreveu
pouco, mas bem, para violão. O Ponteio
(1944), dedicada e estreada por Abel Carlevaro, a Valsa-Choro e os três
pequenos Estudos, apresentam-se com uma linguagem mais livre da influência da
obra violonística de Villa-Lobos.
Mais original quanto a sua linguagem musical é a
obra de Radamés Gnatalli (1906-1988).
A forte ligação de Gnatalli á música popular
brasileira é claramente visível em várias de suas obras que misturam a música
urbana carioca a uma refinada técnica e musicalidade.
Das suas obras para violão, destacam-se os vários concertos para violão e suíte Retratos para dois violões, Sonata para
violoncelo e violão e a Sonatina para
violão e cravo, além da
inclusão do violão em várias obras
para grupo instrumental de caráter regionalista.
Edino Krieger (1928) compôs uma das mais
importantes obras para o repertório dos últimos tempos. A Ritmata (1975),
dedicada a Turíbio Santos, explora novos efeitos instrumentais e associa uma
linguagem atonal a procedimentos técnicos utilizados por Villa-Lobos.
A obra de Almeida Prado (1943) Livro para seis
cordas (1974) apresenta uma concepção musical originalíssima livre de qualquer
influência violonística tradicional e que delineia bem o estilo deste
compositor; esta obra ainda apresenta certas semelhanças com as Cartas Celestes
(1974) para piano quanto á sua concepção sonora.
Marlos Nobre (1939) tem na série Momentos a sua
obra mais importante para violão. Escrita a pedido
de Turíbio Santos e projetada para 12 números, os primeiros quatro foram
escritos entre 1974 e 1982.
Ainda de Nobre destaca-se a Homenagem a Villa-Lobos
e Prólogo e Toccata op. 65. Para dois violões, Marlos Nobre recriou 3 Ciclos
Nordestinos dos originais para piano, ótimas obras miniaturas que utilizam
motivos do folclore nordestino.
Ricardo Tacuchian (1939) escreveu Lúdica I (1981),
dedicada a Turíbio Santos, em que apresenta uma linguagem contemporânea com
toques de nacionalismo e efeitos sonoros os mais diversos.
A sua Lúdica II (1984), escrita em homenagem a Hans
J. Koellreutter, é uma obra mais tradicional quanto á sua concepção sonora.
Jorge Antunes (1942) escreveu Sighs (1976), na qual o autos requer uma afinação
especial para o segundo movimento, uma invenção em torno da nota si.
Lina Pires de Campos escreveu o excelente Ponteio e
Toccatina (1978), obra premiada no 1º Concurso Brasileiro de Composição de
Música Erudita para Piano ou Violão – 1978.
Deste mesmo evento surgiram novas obras, como o já
mencionado repentes de Pedro Cameron, a Suíte Quadrada de Nestor de Holanda
Cavalcanti e o ótima Verdades de Márcio Cortes.
Ainda cabe aqui mecionar a obra do boliviano,
radicado e ligado a Curitiba e ao Brasil durante anos, Jaime Zenamon (1953),
dono de uma excelente e prolífica produção para o instrumento que tem sido
extremamente bem aceita nos meios violonísticos internacionais.
Entre suas obras destacam-se Reflexões 7, Demian,
The Black Widow, Iguaçu para violão e orquestra,
Reflexões 6 para violoncelo e violão, e a Sonatina
Andina para dois violões.
Conclusão
Esta pesquisa se configura como um auxílio ao
entendimento de como: historiadores, musicólogos e pesquisadores em música
chegaram à noção da origem e desenvolvimento do violão.
Contudo, chegamos a uma idéia de que este
desenvolvimento te uma raiz bem mais complexa, ou seja, não podemos ter uma
concepção de linearidade evolucionista no que diz respeito aos instrumentos
cordofônicos.
Além do mais, não poderíamos dizer que uma
categoria de instrumento é “melhor ou pior”, podemos dizer que são peculiarmente
diferentes.
Concluímos que houveram diferentes configurações de
instrumentos cordofônicos “dedilhados, arpejados, plectrados ou rasgueados”,
semelhantes ao violão, que assumiram características diferentes devido ao:
virtuosismo do violonista, da técnica de produção do luthier, da matéria prima
e ferramentas artesanais ou industriais, acústica e muitos aspectos que podem
ter influenciado o uso, aceitação e difusão de tais instrumentos.
Esperamos que este estudo seja de grande proveito
aos estudantes e curiosos a respeito do violão, e até o próximo artigo.
Abraços!!!
Referências Bibliográficas:
NOGUEIRA, Eduardo Fleury. A Evolução do
Violão na História da Múscica. São Paulo: 1991.
DUDEQUE, Norton. História do Violão.
Curitiba: 1958.
COSTA, Camila Pastor da. O violão de seis cordas na sua função de Instrumento acompanhador do
samba urbano do Rio de janeiro. Monografia apresentada para
a conclusão do curso de Licenciatura Plena em Educação Artística – Habilitação
em Música do Instituto Villa-Lobos. Rio de Janeiro: UNIRIO- 2006.
SOUZA, Henrique Almeida M. O violão brasileiro nas primeiras décadas do século XX. Monografia
(Curso de Licenciatura em Música) – Centro de Letras e Artes, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro.
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